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O (quase) feminismo de Political Animals




Who run the world? GIRLS!!

O refrão da música da lindíssima Beyoncé, à primeira vista (depois explico o porquê), combina direitinho com Political Animals, minissérie da USA network, transmitida no Brasil pela HBO. Isto porque são Elaine Barrish (Sigourney Weaver) e Susan Berg (Carla Gugino) que dão as cartas na trama que retrata os bastidores da família Hammond. O clã mais poderoso dos EUA, de onde saíram um Presidente, uma Secretária de Estado e seu chefe de gabinete.

Elaine limitava-se a ser primeira-dama do mandato de Bud Hammond, o presidente fanfarrão que tinha como hobby encher a cabeça de sua esposa de enfeites (se é que você me entende).   Sai deste papel de figurante para ser candidata na prévia dos democratas e perde a eleição. No dia do anúncio da derrota ela se divorcia de Bud para depois se tornar a Secretária de Estado. Até aí, qualquer semelhança com os Clinton e Mônica Chupinski, ops, Lewinski, não é mera coincidência.

Trailer da série!

O casal Elaine e Bud é descaradamente inspirado nos Clinton. Mas o que Elaine quer mesmo é ser Presidente dos Estados Unidos, run the WORLD. Mas entre as broncas de ser secretária de Estado e organizar a campanha para as prévias seguintes, tem a bronca maior, ser mãe numa família do desajustado T.J Hammond (Sebastian Stan), viciado em drogas, e do bonitinho e prestes a casar Douglas (James Wolk), chefe de gabinete da Secretária e herdeiro político dos Hammond.

Até aí tudo bem. Elaine não é retratada como a bitch que deixa sua família naufragar por conta de uma ambição. Pelo contrário, ela é apresenta como uma mulher com um ideal político que faz jus ao nome da série (que faz referência ao zoon politikon de Aristóteles). A questão é que a mulher mais poderosa dos EUA não consegue se livrar do ex-marido que só faz chifrá-la. Mesmo com as pesquisas indicando que os eleitores preferem Elaine sem Bud, a secretária de Estado se derrete toda diante do safado.

O mesmo acontece com Susan Berg, jornalista que ganhou um Pulitzer por “meter o pau” em Bud por conta de suas canalhices e de tanto esculhambar com a atitude passiva da primeira-dama.. Mas Susan tem telhado de vidro, minha gente. É chifrada pelo namorado e chefe, mas continua atendendo suas ligações (se é que você me entende) e cede aos charmes do cara que a traiu com uma colega de trabalho mais novinha. Agora, Elaine e Susan, antes desafetos, passam a colaboradoras em nome do Girl Power. Vale a pena ver essas mulheres detonando e sendo peritas naquilo que fazem. 

O que dá raiva é saber que a minissérie de apenas seis episódios era pra ser, inicialmente, uma série de três temporadas. Mas por conta da baixa audiência, não vai ser renovada. A história pede uma continuidade e falta um desfecho. Mas vá por mim!! Ainda assim ta valendo assistir.

Elaine e Susan são estrelas. Poderiam mesmo governar o mundo. Tê-lo aos seus pés. Mas a minissérie as retrata como mulheres que se curvam diante de homens menos preparados  e, de longe, menos brilhantes. E enfatizar o feminino como o lado inseguro da relação, oposto à objetividade masculina, é corroborar com o senso comum que define a mulher como “mole” diante das “coisas do coração”. 

É um preconceito bem mais sutil do que a violência contra a mulher, é verdade, mas continua sendo preconceito... Hillary Clinton, com 68% de aprovação do seu desempenho como Secretária de Estado (índice que fica abaixo apenas do alcançado por Colin Powell antes da invasão do Iraque) e favorita para ser candidata dos Democratas pós-Obama , andou dando declarações que se afastaria do cargo para cuidar da família. Ao The Washington Post, disse Obama: "Apesar das minhas súplicas, talvez seja o momento dela passar mais tempo com a sua família".  

E então, Who run this motha???

* Cleonardo é mestrando em Antropologia na UFPE e o novo colaborador do De Episódio em Episódio

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