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Sobre o prazer em agonia



Texto por Gustavo Paes*
“Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar” era o mantra que ecoava há cerca de duas décadas atrás por toda uma Recife em fase de transição. Um norte positivo, esperançoso, instigando a evolução da humanidade.
Contudo, o sentido da frase pode ser muito mais amplo. Que o diga o produtor, roteirista e diretor Vince Gilligan. Dentro do universo da sua grande cria, a cultuada série Breaking Bad, o tal passo se transforma em uma tentadora caminhada rumo ao abismo moral.
A forma naturalista como o tráfico de metanfetamina se apresenta como uma tentadora opção para um químico falido e lutando contra um agressivo tumor no pulmão é aterradora.
Gilligan venceu o jogo já no primeiro episódio. Quando o telespectador se coloca na posição de White e, por conta do contexto, consegue até certo ponto perdoar as escolhas erradas do protagonista, a tabela de valores, antes dividida entre duas colunas, embaralha-se.
A premissa do “homem comum em uma situação limite” já foi explorada à exaustão na indústria do entretenimento. Mas quase na totalidade dos casos, o “mocinho” não se desvirtua, apesar da pressão, rendendo uma ótima lição.
Mas em Breaking Bad, como os próprios envolvidos já avisaram, não existe espaço para final feliz. Gilligan controlou a dose desde o começo. O choque ao ver o pacato professor de química fabricando metanfetamina, uma droga devastadora, é apenas o começo.
Durante a série Walter abusa da mulher, mente incontáveis vezes, mata pessoas, manipula quem pode e se omite quando acha necessário. Seria muito fácil taxar: monstro. O problema é que ele faz tudo isso sem perder a humanidade.
Breaking Bad é um pesado exercício de tolerância em tempos efêmeros. Altera a dinâmica contemporânea do bom mocismo fajuto + sujeira debaixo do tapete. O seriado é justamente sobre a sujeira debaixo do tapete.
Se você não for um “Ursinho Carinhoso” da vida, já teve que lidar algumas vezes com os chamados demônios interiores.
Breaking Bad devolveu à televisão parte da sua capacidade de instigar grandes reflexões. O que a torna ainda mais incrível é que funciona muito bem como obra de ficção, repleta de atuações brilhantes, drama, comédia, ação e algumas boas pitadas de horror. A definição mais famosa do tom do programa é precisa: o seriado é hiperrealista.
 Desfecho
Ainda não existe um dia definido para o retorno de Breaking Bad. Os últimos oito capítulos da quinta temporada estão em fase de produção. E, apesar do co-protagonista Aaron Paul (Jesse Pinkman) cravar o dia 14 de julho como dia da volta, os produtores trataram de não firmar compromissos.
Muito desse mistério se dá por uma causa nobre. Segundo Vince Gilligan, o grau de perfeccionismo estipulado para a reta final do seriado é muito alto. Nada mais natural para quem acompanha a série, considerada uma das melhores da história.
A deixa da metade da quinta temporada, com o cunhado de Walter White, um agente da narcóticos, descobrindo o que o amigo anda fazendo nas horas vagas, deve formar um grandioso arco final para a história.
Resta torcer para que o prazo de retorno não se estenda muito para que o timing dessa obra brilhante não se perca.

* Gustavo Paes é jornalista e trabalha na Folha de Pernambuco

2 comentários:

  1. Incrível o texto! Parabéns pela qualidade do blog como um todo, gente!

    Breaking Bad mexe com a gente em muitos sentidos, Quando a gente vê, pensa: "se fosse eu, faria a mesma coisa", e isso choca.

    Que venha o desfecho!

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  2. Brigadinha, Paulinha! (: A gente aceita com muito carinho colaborações de todo mundo. Esta é a proposta do blog. Tou louca pra assistir a última parte de Breaking Bad, mas parece que só em setembro :/

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